Repensando A Igreja

CARTA ABERTA AOS CRISTÃOS SINCEROS

Sinto-me no dever de discorrer sobre a situação da igreja brasileira dos últimos tempos.

Nunca fomos tão fortes, poderosos, influentes e incômodos como igreja evangélica do que nos dias atuais. A religião majoritária do país que o diga. A cada posse de um novo papa o Brasil se torna prioridade para receber a visita do pontífice católico. Não pelo fato de somente ser o maior país católico do mundo, mas pelo fato de ser o país onde a perda de fiéis é mais assustadora.

Tiramos o sono de religiosos, bispos e papas por causa do nosso progresso avassalador demonstrado pelo IBGE a cada pesquisa. Em 1890 os evangélicos de todas as confissões somavam apenas 1% da população brasileira. Éramos a minoria que não incomodava e nos chamavam de bodes e outros apelidos grosseiros. Cinqüenta anos depois, em 1940, somávamos apenas 2,61% da população. Dez anos depois, em 1950, a duras penas chegávamos a 3,35% da população e um total de l.741.430 membros aproximadamente.

Em 1960 chegamos a 4,02% da população para depois saltar para 5,17% em 1970. O crescimento evangélico vinha sendo tolerado como normal até que em 1980 saltamos para 6,63% para depois alcançar 8,98% em 1991. Neste momento chamamos a atenção do mundo para o número de 13.189.284 cristãos de profissão evangélica incrustados no maior país católico do mundo.

Se o Vaticano já não conciliava o sono com esses números imagine o que viria a seguir.

Nove anos depois, no almejado ano 2000, incrivelmente saltávamos de 8,98% para 15,42% da população e um total de 26.184.941 cristãos que professavam a fé evangélica.

Daí em diante, o pequeno punhado de neve de 1% da população em 1890, começou a descer a montanha e chegou e enorme cifra de 22,14% da população em 2010, perfazendo um total de 42.275.437 cristãos que professam a fé evangélica.

O susto maior foi dado pelo IBGE em Junho de 2012 ao anunciar que o número de evangélicos aumentou 61,45% em 10 anos.

A igreja Evangélica Brasileira
Todos esses dados e números deveriam nos encher de júbilo, mas existe uma dura realidade no outro lado da moeda que vem nos colocando em alerta recentemente. 

Há vinte anos ouvi de um velho missionário americano que fora um homem de Deus incomparável. Ele fora radicado por anos no Brasil e aqui criou e formou seus filhos os quais todos são envolvidos no Reino. Ele me disse uma frase inquietante expressando o que ele sentia sobre a igreja brasileira. Ele me disse:
- A igreja evangélica brasileira é alegre, jovial, pujante, envolvente, mas por outro lado ela ainda é infantil.
Naquele tempo não levei a sério o que disse o homem de Deus, mas à medida que os anos se passavam eu ia sendo confrontado com a situação de inocência da tão batalhadora igreja evangélica brasileira. Não posso gastar tempo comentando os modismos e trejeitos implantados em nosso meio, mas gostaria de compartilhar com os cristãos sinceros e atentos algo que guardo com muito carinho. Trata-se de um artigo escrito pelo Reverendo presbiteriano Hernandes Dias Lopes e publicado na Revista Lar Cristão de fevereiro de 2002. Muitas vezes eu me inquieto e até chego a sentir “o espírito se revoltando”, como Paulo em Atenas, diante da idolatria dos gregos.

Diante de um quadro de insatisfação nacional com os movimentos de reivindicações marchando pelas ruas e colocando em xeque nossos maus governantes. Diante de um quadro ameaçador das bases da família tradicional brasileira levado a cabo por movimentos homossexuais. Seria a hora de perguntar como será o comportamento da pujante e desenvolta igreja evangélica brasileira. Mas não temos valores que se destacam para enfrentar os desafios da nação, salvo alguns que elevam a sua voz para defender seus próprios pontos de vista.

Quando busco palavras para tentar expressar o que sinto não as encontro, mas busco socorro em quem sabe e pode falar por mim. Por isso quero tornar como se fossem minhas as palavras do Rev. Hernandes Dias Lopes, não negando em nada os créditos ao referido homem de Deus.

Hernandes capta como ninguém a situação caótica da pujante igreja evangélica brasileira, como se portasse um potente binóculo espiritual. Creio que não são palavras comuns, mas o cerne de uma poderosa profecia para o nosso tempo.

A seguir as palavras do Rev. Hernandes Dias Lopes.
Indubitavelmente, uma das maiores crises que estamos atravessando hoje no lar, na igreja, nas instituições e na nação é uma crise de liderança, uma crise de referenciais. Estamos precisando de modelos. Os mourões que sustentam os valores da sociedade estão caindo. As cercas estão se afrouxando. Os muros da nossa civilização estão quebrados, e as portas de proteção e liberdade estão queimadas a fogo. Estamos expostos a toda sorte de influências deletérias porque as nossas referências, que na igreja, quer na família, estão fracassando.

Perda de Referência na Igreja
A crise avassaladora que atinge a sociedade também alcança a Igreja. Embora estejamos assistindo a uma explosão de crescimento da igreja Evangélica brasileira, não temos visto a correspondente transformação na sociedade.

Muitos pastores, no afã de buscar o crescimento de suas igrejas, abandonam o genuíno Evangelho e capitulam diante do pragmatismo prevalecente da cultura pós-moderna. Buscam não a verdade, mas o que funciona; não o que é certo, mas o que dá certo.

Pregam para agradar os seus ouvintes, e não para levá-los ao arrependimento. Pregam o que eles querem ouvir, e não o que eles precisam ouvir. Pregam um Evangelho antropocêntrico, de curas, milagres e prosperidade, onde o homem é o centro e o alvo de todas as coisas, e não o Evangelho da cruz de Cristo. Pregam não todo o conselho de Deus, mas doutrinas engendradas pelos homens. Pregam não as Escrituras, mas as revelações de seus próprios corações.

O resultado deste semi-evangelho é que muitos pastores passam a fazer do púlpito um balcão de negócios, onde as bênçãos e os milagres de Deus são comprados por dinheiro. Outros passam a governar as ovelhas de Cristo com dureza e rigor. Encastelam-se no topo de uma teocracia absolutista e rejeitam ser questionados. Exigem dos seus fiéis uma obediência subservientes e cega. O resultado é que o povo de Deus perece por falta de conhecimento e de referências.

A crise teológica e doutrinária deságua na crise moral. Nesta perda de referenciais, muitos líderes têm caído nas armadilhas insidiosas do sexo, do poder e do dinheiro. A crise moral na vida de muitos pastores brasileiros tem sido um terremoto avassalador. Muitos ministros do Evangelho que eram modelos e paradigmas para suas igrejas têm sucumbido. Muitos líderes de projeção nacional têm naufragado.

Não poucos são aquelas que têm dormido no colo das Dalilas e acordado como Sansão, sem poder, sem dignidade, sem autoridade, ficando completamente subjugados nas mãos do inimigo. A cada ano cresce o número de pastores que soçobram no ministério por causa de sexo, dinheiro e poder. É assustador o número de pastores que estão no ministério, subindo ao púlpito a cada domingo, exortando o povo de Deus à santidade, combatendo tenazmente o pecado e, ao mesmo tempo, vivendo uma duplicidade, uma mentira dentro de casa, sendo maridos insensíveis e infiéis, pais autocráticos e sem nenhuma doçura com os filhos. Não são poucos aqueles que, em vez de alimentar o rebanho, têm apascentado a si mesmos. Em vez de proteger o rebanho dos lobos vorazes, são os próprios lobos vestidos de toga.

Charles Spurgeon dizia que um pastor infiel é o pior agente de Satanás dentro da igreja. O número de pastores e líderes que estão abandonando o lar, renegando os votos firmados no altar, divorciando-se por motivos fúteis, não permitidos por Deus, e casando-se novamente é estonteante. Esta perda de referencial é como um atentado terrorista contra a Igreja de Deus. Ela produz perdas irreparáveis, sofrimento indescritível, choro inconsolável e feridas incuráveis. O pior é que o nome de Deus é blasfemado entre os incrédulos por causa desses escândalos.



Autor: Pr. Epaminondas M. Pinho